
Batalhão de Cavalaria nº 267 – Parte I
Texto de Idílio Amaral
O meu Batalhão partiu do Regime de Cavalaria nº 3 – Estremoz, para Angola, em 16 de Janeiro em 1964, a bordo do “Vera Cruz”. Uma manhã chuvosa e de muito frio, de diversos pontos do País, concentraram-se centenas de pessoas no Cais da Rocha em Lisboa , para dizerem adeus aos seus Militares que partiam para a guerra.
Eu não tinha ninguém a dizer-me adeus, talvez que tenha sido melhor assim, um adeus é sempre doloroso, tinha a certeza que no momento do embarque, alguém que muito amava e amo e todos os meus carinhosamente levava no coração, pediam a Deus para me acompanhar em todos os momentos difíceis da vida, eu sabia que as suas lágrimas, juntavam-se às que eu até determinada altura fui reprimindo, mas quando o “Vera Cruz”, começou a movimentar-se e os dispositivos acústicos, anunciavam a partida, os meus olhos deixaram cais pelas faces grossas lágrimas de saudades que jamais as vou esquecer.
Algumas mães de Militares, esposas, namoradas e outros familiares, gritavam como se todos tivéssemos morrido partida como se o barco se estivesse a afundar.
Muitas mães de Militares num autentico desespero, arrepiavam os cabelos, outras antes do embarque, enrolavam os filhos nos seus xailes pretos, muito usados na altura, especialmente, nas províncias.
Os pais de muitos Militares, encorajavam os seus filhos alguns a custo retinham as suas lágrimas, elas não escorriam pelas faces crestadas dos trabalhos duros do campo e das intempérie, mas escorriam para dentro, escaldavam a alma e o coração.
Tempos de lenços brancos a acenar, xailes pretos, como negros partiram tantos corações, daquele “Cais da Rocha”, ou o “Cais da Pedra”, como alguém mais tarde o apelidou.
A fanfarra do Exército Português, depois do Hino Nacional tocava: – Angola é Nossa. Angola é Nossa. Angola é Nossa.
Na hora certa, as coisas lá estavam bem montadas só para disfarçar, quanto mais gritos se ouviam, mais ambulâncias chegavam para o transporte de pessoas desmaiadas, ou mesmo alguma prestação de socorro no local, mais alto a fanfarra militar tocava.