
Memórias que vos conto
Texto de Idílio Amaral
Os ventos agrestes de África, sopravam mais fortes que nunca e os povos das colónias da Europa, nos anos sessenta lutavam pela sua independência. Portugal e as suas Colónias, não evitaram os ventos da história, acabando estes por dominarem o Continente Africano. Os primeiros conflitos armados em Angola, ocorreram a 4 de Fevereiro de 1961, com ataques à Casa da Reclusão, ao Quartel da PSP e à Emissora Nacional de Luanda, cuja acção foi provocada pela UPA-UNIÃO Popular de Angola.
As forças de libertação de Angola, provocaram assim as primeiras vítimas e mancharam a paz da vida Angolana, foi apenas o começo, anos mais tarde, desmoronava-se o Império Português.
O antigo regime sabia dos ventos que anunciavam a mudança, Salazar em resposta a Nehru, em que este reclamava a Aoberania Indiana, alertava para a necessidade de Portugal estar preparado para não abandonar o Território Indiano.
Esta posição de Salazar, chocava frontalmente com a postura da União Indiano, que desde Janeiro de 1953, pediu para negociar a transferência de poderes.
Em 17 de Dezembro de 1961, tropas da União Indiana, com armamento do mais moderno que existia na altura, invadiram Goa, Damão e Diu, provocando diversas baixas militares nas nossas tropas e fizeram prisioneiros, toda a guarnição militar, incluindo o Governador e Comandante Chefe do Território, General Vassalvo e Silva.
Salazar revoltou-se contra as tropas que se renderam, para ele, as reduzidas e mal armadas Forças Portuguesas, não eram motivos suficientes para a rendição, Vassalo e Silva deveria ter lutado com todos os seus homens, até à última gota de sangue.
Os seis meses de Cativeiro das Forças Armadas em condições desumanas e a União Indiana ao verificar que os Militares Portugueses, cada vez se encontravam mais fragilizados, prevendo-se uma catástrofe em plenos campos de concentração, acabaram por se efectuarem negociações de libertação, tendo Salazar nomeado para o efeito, o Engenheiro Jorge Jardim, radicado em Moçambique, personalidade muito influente no regime de então, o qual negociou a libertação dos prisioneiros.
Quando os mesmo chegaram a Lisboa, via marítima, foram recebidos no “Cais da Rocha” por elevado número de Militares, equipados com diverso material bélico, apontado para os navios, cujos Militares viajaram desarmados.
Posteriormente, muitos oficiais e sargentos, foram alvo de processos disciplinares, apontados com infractores ao RDM – Regulamento de Disciplina Militar, tendo-lhes sido retardadas as suas promoções ao posto superior.
Em Angola, Guiné e Moçambique, muito antes de a guerra ter rebentado, muito foi acontecendo só que os acontecimentos com algumas consequências graves, por parte dos nativos em situação de escravidão, nada passava para o exterior, só muito mais tarde a comunicação social os divulgou.
Eram os sinais da mudança, pelo que tudo levava a concluir que a todo o momento, os confrontos armados, seriam uma realidade o que aconteceu.
Como resultado dessa desconfiança, em Novembro de 1959 foi criado pelo Exército Português o “CIOE – Centro de Instrução Operações Especiais” também conhecido por “Ranger – Lamego”. Este Centro Operacional, tinha como base principal, a preparação de tropas para a luta, contra-guerrilha a acção psicológica. O primeiro resultado do “CIOE”, foi a preparação de três Companhias de Caçadores Especiais, cujos militares o final de Março de 1961, patiram para a zona mais conflituosa do Norte de Angola.
Em Janeiro de 1960, era o Batalhão 5 de Lisboa a dar o início à instrução de Companhias Especiais, o resto das tropas mal preparadas, partiram inicialmente para Angola, colocadas nas frentes de combates, fazendo uso do capacete de ferro, da velha espingarda “Mauser” e os rebeldes atacavam as nossas tropas, com canhangulos e à catanada, só mais tarde, distribuída individulamente a espingarda FN, a qual não deu grande resultado, tendo sido substituída pela espingarda G-3 no ano de 1964, cuja arma era mais robusta e funcional.
Os Militares Portugueses tiveram pouca preparação pata fazerem uso do novo armamento, era tudo feito à pressa, com o fim de enviarem os Militares, fortemente armados para os combates no mato,tendo sido muito negativos os resultados em algumas Unidades Militares, pelo que ocorreram algumas mortes e feridos incúria, nas nossas tropas.
Depois dos acontecimentos em Luanda, os massacres ocorreram um pouco por todo o norte de Angola e a população negra a qual não aderiu inicialmente aos movimentos libertadores, foram os primeiros a serem degolados à catanada só mais tarde ocorreram os confrontos armados com as nossas tropas, Exército, Armada e Força Aérea.